terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Eris e Psique
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o
Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
- Fernando Pessoa
...ao menos eis o que se encontrou...
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Choque Cultural

Para mais informações: http://www.choquecultural.com.br/
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Cadáver Pega Fogo Durante o Velório / Malditos da MPB

Na capa do vinil: "Artificialmente limpa pelo processo Olivetti de tecladismo estéril, a MPB ultimamente não tem correspondido à violência do país que a produz. Pelo menos a MPB, emanada da burocracia do show-bizz e do oficialismo político do bom humor a preço de hiena. Fernando Pellon vai chocar essa hipocrisia generalizada vendida com rótulo de bom gosto e status. 'Nunca gostei de eufemismo', vai logo cantando ele. E dá nome às doenças, como fazia Augusto dos Anjos, com um requinte de morbidez que ainda perde, no entanto, para a crueldade exibida diariamente por nossas autoridades mais altas."
“Cadáver pega fogo durante o velório” é um samba ácido-obscuro. Encontrei o CD graças a um amigo e confesso que a curiosidade e a certeza de bons risos me levaram a ouvi-lo. Impressionei-me com o clima dark, parecia que alguém havia transformado as tragédias do jornal O Povo em poesia. Mórbido e desolado? Sim. Porém genial. Um CD que deve ser ouvido desarmado de pré-conceitos. É uma espécie de lenda que circula pela internet. Todas as músicas deste disco são de Fernando Pellon, à exceção de "Tal como Nazareth", composta em parceria com Paulinho Lêmos, e "Flores de Plástico ao Amanhecer", com Renato Costa Lima.
Fernando Pellon atualmente é geólogo da Petrobrás; não é famoso, não é rico, mas é tipo um Augusto dos Anjos dos tempos da década de oitenta, com direito a nomeação de doenças infecto-contagiosas e afins.
Fernando Pellon: http://www.myspace.com/fernandopellon
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Poutz... assisti um filme.

Freud afirma que os sonhos são sistemas de símbolos acumulados e que, por esta propriedade, devem ser interpretados de maneira lógica. Inspirado por estes novos conceitos, em meados dos anos 20, André Breton se desgarra de seus parceiros dadaístas e propõe aos artistas e escritores, ao publicar seu primeiro manifesto do surrealismo, que expressassem o pensamento de maneira livre, espontânea e irracional, externando os impulsos da vida interior, sem exercer sobre ele qualquer controle, inclusive de ordem estética ou moral. O surrealismo, então, se caracteriza por um paradoxo ou um conflito que gera uma nova realidade, a surrealidade.
Os surrealistas, desta forma, passaram a utilizar os sonhos, as fantasias e todo material advindo do subconsciente através do que chamavam de automatismo consciente para a construção de suas obras.
Em Um Cão Andaluz, Luis Buñuel e Salvador Dali justapõem deliberadamente imagens que corriam em seus sonhos, sem qualquer lógica, violando a narrativa clássica. No filme, assim como nos sonhos, há deslocamentos de tempo e espaço. A ruptura de tempo ocorre através dos intertítulos que no lugar de auxiliar a construção narrativa, destroem-na. Já o deslocamento espacial se faz por um uso oportunista das locações. A rua e a praia ocupam o mesmo espaço fora do apartamento.
Seria muito vago ou deveras subjetivo de minha parte buscar uma interpretação para este filme. De fato, desde seu lançamento todo o tipo de interpretação já foi feita a seu respeito; desde “seu enredo seria uma viagem à mente perturbada de um assassino e as suas confissões traduzidas em imagens” até menções anti-cléricas. No entanto, o próprio Buñuel certa vez afirmou que qualquer idéia racional, preocupação estética ou técnica seria irrelevante e descartada. O que acontece, no entanto, é um efeito no qual o espectador busca por sentidos e lógicas, interpretações presas nos valores vigentes.
O único objetivo aparente em Um Cão Andaluz, no final das contas, é a busca por uma expressão artística que se refere não ao modelo externo, mas sim a outro, o interno, não condicionado por modelos culturais. Para Buñuel e Dali existe outra realidade, tão real e lógica como a exterior, que é a dos sonhos, da fantasia, dos jogos espontâneos do inconsciente que se desenvolve a margem de toda a função filosófica, estética ou moral. O filme quer transcender o mundo tangível e desvelar aos espectadores um universo até então desconhecido, encoberto pela percepção cotidiana das coisas.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Kafka por Kuper

...é assim que ela tentava compactuar com a mediocridade de viver.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Releitura - Escrever, humildade técnica

- Clarice Lispector
Texto extraído do livro "A Descoberta do Mundo", Editora Rocco.
Estou sendo para vocês apenas mais um internauta solidário, mas estou sendo.
Gostaria de pedir desculpas pra algumas pessoas, pois inevitavelmente me encontro em sete celas psicologicas, e por isso meu único meio de comunicação com o mundo será por este blog. É capaz de alguem acabar me achando, e se achar, fique sabendo que em paz estou, e que irei tirar o tempo livre pra reformular algumas perguntas mas muito me precavendo pois as respostas seriam muito mais misteriosas.
Se entregue neste livro do prazer. Enjoy it.